Durante as missões Apollo, a NASA inteligentemente deixou reservados alguns materiais lunares sabendo que futuros cientistas provavelmente estariam melhor equipados para analisá-los. Agora, quase 50 anos depois, a agência espacial está dando a um grupo seleto de pesquisadores a extraordinária oportunidade de estudar essas amostras não abertas e intocadas.
Nove propostas para estudar as amostras fechadas da missão Apollo foram selecionadas pela NASA em seu programa Apollo Next Generation Sample Analysis, ou ANGSA, de acordo com um comunicado de imprensa do Centro de Voos Espaciais Goddard.
Os materiais lunares foram recolhidos durante a Apollo 15 (a quarta missão lunar, que começou em 26 de julho de 1971) e a Apollo 17 (a sexta e última missão lunar, que começou em 7 de dezembro de 1972). Algumas das amostras coletadas nunca foram abertas, para evitar possíveis contaminações, enquanto outros materiais lunares, depois de certo processamento inicial, foram selados novamente e colocados em câmaras frigoríficas.
O objetivo de tudo isso era garantir a integridade dos materiais lunares para estudo posterior, permitindo que futuros cientistas — equipados com novas tecnologias e novas perguntas — pudessem dar uma olhada. Como nenhum material lunar chegou à Terra desde 1972, esta foi uma ideia prudente.
Entre os vários objetivos do programa ANGSA está a realização de trabalhos que informarão as futuras missões lunares previstas para as próximas décadas. Os pesquisadores procurarão saber se os métodos utilizados para armazenar os materiais da Apollo realmente funcionaram, mantendo-os o mais puros e imaculados possível. O trabalho também será relevante para os cientistas que trabalham na missão OSIRIS-REx, cujas amostras coletadas do asteroide Bennu serão trazidas à Terra em março de 2021.
Jamie Elsila no Laboratório Analítico de Astrobiologia do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, em Greenbelt, Maryland. Imagem: NASA/Goddard/Tim Childers
A astroquímica Jamie Elsila, do Laboratório Analítico de Astrobiologia de Goddard, liderará uma das equipes selecionadas para o programa.
“Estamos procurando por moléculas orgânicas pequenas que estão provavelmente presentes em concentrações muito baixas nas amostras lunares,” Elsila disse ao Gizmodo. “Nos últimos 50 anos, nossa sensibilidade analítica melhorou muito, e métodos novos foram desenvolvidos para isolar as combinações em que estamos interessados, dando-nos uma capacidade para detecção que não era possível 50 anos atrás. É realmente uma questão de instrumentação e métodos mais avançados que nos permitem encontrar e medir essas moléculas agora.”
A equipe de Elsila vai estudar compostos orgânicos voláteis — os precursores dos aminoácidos — nas amostras, que, sabe-se, existem nos materiais, com base em estudos anteriores. Os pesquisadores querem descobrir se os compostos orgânicos existem em maiores quantidades nas regiões sombreadas da Lua e se a abundância desses compostos varia de acordo com a profundidade, entre outras coisas.
“Isso vai nos ajudar a entender melhor a química lunar”, disse Elsila. “Cientistas estavam fazendo perguntas sobre compostos orgânicos quando as amostras da Apollo foram trazidas, mas nossos novos instrumentos nos ajudarão a respondê-las de maneiras que não estavam disponíveis na época.”
Além disso, a equipe de Elsila examinará como as amostras podem ter sido afetadas pelos procedimentos de curadoria utilizados. Por exemplo, eles gostariam de saber se o armazenamento dos materiais em vácuo ou em câmaras frigoríficas preservou os compostos voláteis melhor do que as condições normais, especificamente o armazenamento em temperatura ambiente sob nitrogênio limpo e fluindo. As respostas ajudarão na concepção de planos de curadoria para futuras amostras coletadas, disse ela.
Jessica Barnes, pesquisadora do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona, participará desta investigação de curadoria. Para esse fim, ela terá acesso a materiais coletados durante a Apollo 17, especificamente a amostra 71036, que contém quase 0,11 kg de rocha.
“A pergunta que queremos responder é: estamos medindo a verdadeira assinatura da Lua? Ou há influências terrestres que afetaram as amostras durante o armazenamento?”, disse Barnes em um comunicado de imprensa. “A beleza de uma amostra congelada é que ela tem sido preservada diferentemente das amostras armazenadas em temperatura ambiente. Não poderíamos fazer essa pesquisa sem abrir as amostras congeladas.”
Natalie Curran trabalhando com um espectrômetro de massa. Imagem: NASA
Com seus colegas da Universidade do Arizona, Barnes incorporará a rocha em resina e a cortará em seções microscopicamente finas para análise química. Essas fatias também serão disponibilizadas para futuros pesquisadores.
Outra equipe do Goddard selecionada para o projeto ANGSA será liderada por Natalie Curran e Barbara Cohen, do Laboratório de Pesquisa de Gás Nobre do Meio-Atlântico (MNGRL). Eles serão auxiliados por pesquisadores do Museu Nacional de História Natural Smithsonian e da Instituto Carnegie. Usando gases nobres, Curran e Cohen esperam aprender mais sobre a história geológica da Lua, como o período de tempo em que as amostras — e possivelmente compostos orgânicos — estiveram expostos na superfície. Elas também estão planejando estudar eventos como impactos e deslizamentos de terra.
“Ter a chance de trabalhar nessas amostras é como participar de uma missão completamente nova à Lua”, disse Curran em um comunicado de imprensa. “Apesar de serem amostras da Apollo, elas nunca foram abertas, e não sabemos que surpresas nos esperam. Estou empolgada por fazer parte da era de exploração da Lua da nossa geração.”
Faz quase 50 anos que os astronautas não vão à Lua, porém, devido a uma excelente previsão, a investigação científica sobre a Lua pode continuar. Aguardamos ansiosamente pelos resultados.
Fonte: Gizmodo, NASA, Universidade do Arizona