Há um tempo a indústria fala sobre 5G, a quinta geração de internet móvel. No entanto, parece que finalmente em um futuro bem próximo já teremos dispositivos habilitados para a nova tecnologia. Isso porque entre o fim de 2018 e a partir de 2019 teremos os primeiros testes com operadoras e os primeiros dispositivos já adaptados para essa tecnologia.
Isso vai acontecer graças a um acordo da indústria da 3GPP (organização que cria padrões no ramo de telecomunicações) que definiu um padrão desenvolvimento em escala da tecnologia no fim de 2017.
De modo concreto, temos o lançamento do modem X50 5G, da Qualcomm, e uma parceria da empresa norte-americana com dezenas de fabricantes e operadoras. China Telecom, AT&T (EUA), Verizon (EUA), TIM (Itália) e BT (Reino Unido) fazem parte do rol de 18 teles que farão testes no início do ano que vem. Dentre as 19 fabricantes de dispositivos, destacamos a Sony, Asus, LG, HMD Global (que faz os aparelhos de marca Nokia) e Xiaomi.
Aqui a lista completa das empresas que terão dispositivos com modem 5G da Qualcomm
“A fundação do 5G NR (New Radio) começa em 2019, porém só em 2020 que teremos o uso comercial em alguns países”, afirmou o brasileiro Cristiano Amon, presidente da Qualcomm, durante apresentação na sede da empresa, em San Diego (Califórnia).
(Aqui vale um pequeno parêntese: assim como a tecnologia 4G sempre aparece acompanhada com a sigla LTE – Long-Term Evolution, a tecnologia 5G deve vir acompanhada com a sigla NR – New Radio)
É, rapá, o 5G tem até logo específico. Crédito: 3GPP
É importante notar que a Qualcomm não está sozinha no desenvolvimento de chipsets 5G. A Intel também tem seu próprio chipset, que deve figurar em alguns aparelhos móveis — por causa da treta entre a empresa e a Apple, inclusive, existem rumores que a empresa da maçã deva optar por chips da Intel. Na parte de infraestrutura, Nokia, Huawei e Ericsson tem testado soluções com operadoras móveis.
De modo geral, a comercialização do 5G deve começar apenas em 2020. O que ocorrer antes disso são testes específicos em ambientes mais reais — até o momento, a maioria foi feito em laboratórios ou locais restritos.
Primeiro, velocidade
Ainda que a tecnologia 5G seja acompanhada sempre do termo “Internet das Coisas”, o fato é que em um primeiro momento a nova geração de internet móvel deve ser sinônimo de melhor conexão e ponto.
Aí, estamos falando de conexões que chegam a Gbps (gigabits por segundo) — em testes da Qualcomm o chip atingiu 4,51 Gbps na frequência de 28 GHz. A empresa não falou uma banda específica em uso comercial, porém, espera-se, segundo as especificações da 3GPP, que atinja pelo menos 1 Gbps. Em documentos sobre a tecnologia, fala-se até em 20 Gbps.
Fico curioso para saber a velocidade, de fato, de uma aplicação comercial com 5G. Lembro-me que na estreia do 4G no Brasil, em 2012, a velocidade máxima de uma demonstração da operadora Claro chegou a 50 Mbps.
Além das altas velocidades, é prometida baixa latência, de 1 milissegundo, também segundo especificação da 3GPP. Na prática, promete a Qualcomm, será possível ter aplicações de realidade virtual via streaming em que é necessária uma alta quantidade de dados e com o menor atraso possível de transmissão.
Então quer dizer que daqui a diante o foco da indústria vai ser apenas em fazer modems 5G? Ainda não. Sabendo ou não da morosidade da implementação de novas tecnologias, as fabricantes têm desenvolvido modems LTE avançados — uma evolução de 4G que pode atingir velocidades bem altas.
Ainda que a Qualcomm tenha feito certo barulho pelo 5G, a empresa também anunciou um modem X24 LTE, um chip de 7 mm com baixo consumo de energia e que em testes conseguiu atingir velocidade de 2 Gbps. Esta velocidade só é possível pois ele é compatível com agregação de portadora. Na prática, ele consegue usar diversas portadoras 4G para aumentar a banda e a capacidade de rede — um recurso ainda pouco usado por operadoras móveis. Smartphones lançados neste ano já devem vir com este modem recém-lançado.
Futuro hiperconectado
A indústria está bem animada com as possibilidades do 5G, mas na verdade ninguém sabe ao certo o número de oportunidades geradas pelo novo tipo de conexão. Ninguém imaginava, por exemplo, que graças à expansão da internet móvel haveria um mercado de aplicativos bilionários (em valor e em número de usuários), como o Instagram e o WhatsApp.
De bate-pronto, fala-se em transmissão de vídeo em ultra-definição HDR, experiências sociais em tempo real (já vai imaginando como vai ser seu avatar no Facebook em realidade virtual) e experimentos imersivos de entretenimento móvel.
Realidade virtual é uma das áreas que deve ter crescimento com implementação do 5G. Crédito: Pixabay
Em um plano maior, as possibilidades envolvem controle de drones (um desses 5G, por exemplo, não teria problemas de alcance), aplicações na área da saúde (como vestíveis conectados que podem acionar uma ambulância em casos de urgência) e dispositivos para cidades conectadas.
Sobre este último item, a Qualcomm vislumbra um futuro com carros conectados. Em que veículos, equipados com o chip C-V2X não vão apenas farão o automóvel se conectar à internet, mas vai estabelecer conexões com outros dispositivos conectados.
Imagine, por exemplo, um cenário em que veículos conectados são avisados antecipadamente da proximidade de uma ambulância. Isso facilitaria o trânsito do veículo de resgate e poderia, no caso de um semáforo conectado, até facilitar a abertura do sinal para este carro.
Sem contar na redução de acidentes. Em um ambiente conectado, carros poderão frear ao receber sinais de algum incidente ou mesmo evitar atropelamentos com o uso de sensores.
Tudo isso usado para o bem será ótimo. Um mundo sem acidentes, com sistemas inteligentes e conectados cuidando de nossa saúde e com mais segurança no trânsito pode poupar muitas vidas. Só quero ver como vai ser quando toda essa conectividade for usada para o mal.
E no Brasil?
Os testes com 5G ainda devem demorar para aterrisar por aqui. Em uma entrevista de 2017, o presidente da Anatel, Juarez Quadros, informou sobre a possibilidade de haver leilão de frequências para o 5G em 2020 — ano em que alguns países já terão uma operação comercial ativa. O Brasil tem avançado na ativação de redes 4G por diversas cidades, inclusive com novas versões, como a Claro com o 4.5G. Isso é importante, pois 4G e 5G são tecnologias complementares. Elas devem coexistir ainda por um bom tempo.
Outra questão que deve ainda ser resolvida é a expansão de infraestrutura. Um dos grandes problemas para a expansão da cobertura de redes móveis no Brasil é a burocratização para instalação de torres e antenas. Por se tratar de uma legislação fragmentada, é necessário, dependendo da cidade, diferentes autorizações de secretarias e órgãos públicos.
Isso pode impactar de forma específica o a implementação do 5G, pois a tecnologia funciona com frequências muito altas — há testes com frequências abaixo de 6 GHz e outros na casa dos 20 GHz. O princípio é: quanto maior a frequência, menos abrangente é a cobertura. Então, para espalhar o 5G, em alguns casos, será necessário instalar antenas small cells pelas cidades.
Em resumo, pode acontecer com 5G o que rolou com o 4G. O primeiro smartphone 4G do Brasil, no caso do MotoRazr HD , começou a ser vendido em 2012 quando a tecnologia ainda estava sendo testada em apenas algumas localizações.
Olha que beleza: você poderá se exibir para seus amigos com seu novíssimo smartphone 5G — comprado no exterior ou, quem sabe, no Brasil — e não ter a conexão no país. Não é demais?
Fonte: Gizmodo